
“Como atleta, pra
mim era um sonho buscar uma medalha em uma Olimpíada”, disse.
E conseguiu muito
mais. No final da década de 90 foi eleito pela Federação Internacional de Judô
como um dos 50 melhores judocas da história do esporte. Também foi eleito o
maior judoca das Américas no século 20. E em 2013, entrou pro Hall da Fama do
Judô ao lado de outros 20 nomes, entre eles Jigoro Kano, Anton Geesink, Charles
Palmer, Ryoko Tani, Ingrid Berghmans, David Douillet e Jean-Luc Rouge.
Uma vitória
histórica e heróica em uma época em que o judô brasileiro não estava
estruturado e os resultados dependiam basicamente dos grandes talentos
individuais. E essa também foi uma das grandes lutas de Aurélio.
“O Aurélio foi o
nosso grande líder nessa questão e tenho certeza que os frutos que os atletas
colhem hoje, foram plantados naquela época”, disse Rogério Sampaio.
Aurélio Fernandez
Miguel começou cedo no judô. Com problemas respiratórios, por orientação
médica, seus pais, espanhóis de Barcelona, buscaram uma atividade física para
minimizar a doença. Escolheram o judô e o matricularam no São Paulo Futebol
Clube. Tinha pouco mais de quatro anos e alguns meses mais tarde passou a
treinar na Academia da Vila Sônia com seu primeiro mestre, sensei Massao
Shinohara.
“No dia da
competição eu não estava em casa, estava na casa do Aurélio com o pai dele assistindo
pela televisão. Então, eu gritei: Agora! Daí ele aplicou o golpe que nunca
aplicou. Eu fiz o gesto do seoi-nague que eu ensinava pra ele e ele ficou em
vantagem. Daí o pai dele falou pra mim: Será que ele escutou? Escutar não
escutou mas o espírito passa”, disse o sensei Massao Shinohara.
A disciplina do
judô aliada ao rigor do pai catalão e o talento fez com que Aurélio e seu irmão
mais velho Carlos Augusto fossem ganhando gosto pelo judô. Não sem antes
enfrentarem períodos de dúvidas e medos. “Eu não gostava de competir”, revelou
Aurélio. Mas em 1972, aos oito anos de idade, Aurélio ganhou seu primeiro
título: campão pré-mirim do Torneio Budokan. Começava a mais completa galeria
de títulos de um judoca brasileiro até hoje. O atleta adquiriu o gosto pelos
combates e unindo determinação, disciplina técnica e tática e uma incrível
dedicação aos treinos foi se tornando um judoca altamente competitivo.
O primeiro título
internacional de Aurélio Miguel é de 1982, quando ele conquistou medalha de
prata por equipes do Mundial Universitário. Em 83, Aurélio sagrou-se campeão
Mundial Júnior em Porto Rico e só subiu ao pódio porque os próprios
companheiros da seleção gravaram o hino nacional às pressas porque a
organização não tinha.
Em 1984, foi
cortado da seleção em Los Angeles por motivos políticos. A partir de então,
“descobriu” o Circuito Europeu e passou a viajar sozinho por meses a procura de
treinamentos fortes e competições na Europa e Ásia. Durante a carreira, esteve
25 vezes no Japão para períodos de treinamentos intensos e competições.
Um ano após uma
cirurgia no ombro em 1986, Aurélio Miguel terminou o Mundial de Essen (1987,
Alemanha) em terceiro. Mas o melhor aconteceria no ano seguinte com a medalha
de ouro entre os meio-pesados dos Jogos de Seul- 88. Foi o único medalhista de
ouro do Brasil e da América do Sul naquela edição dos Jogos. Com uma baixa
estatura para a categoria meio-pesado (95kg), tinha no preparo físico uma de
suas principais armas para derrotar os gigantes europeus. Em reportagens de
jornais estrangeiros chegaram a dizer que ele tinha dois corações.
“O que fez do
Aurélio um cara diferente é que ele não se contentou com o ouro em 88. Ele
continuou treinando forte, continuou competindo, continuou se desenvolvendo.
Foi essa não acomodação que o fez ser o atleta que ele é hoje”, disse Wagner
Castropil, atleta olímpico em Barcelona 82 e ex-médico da CBJ.
Em 1989, junto
com outros atletas rompeu com a CBJ contra o autoritarismo dos dirigentes. Só
voltou no começo de 1992, após acordo. Recebeu a honra de ser o porta-bandeira
do Brasil nos Jogos de Barcelona 1992 que consagraria o segundo campeão
olímpico brasileiro, Rogério Sampaio. Sem treinar bem e sofrendo com contusões,
Aurélio Miguel não foi bem.
Em 1993 o judoca
foi vice-campeão mundial em Hamilton (CAN), medalha que repetiria quatro anos
depois em Paris. Antes disso, nas Olimpíadas de Atlanta 96, ganhou o bronze,
sua segunda medalha olímpica. Depois de Paris, contusões impediram que ele se
preparasse melhor para entrar para a seleção que foi a Sydney-2000 e em 2001
encerrou sua carreira.
"O Aurélio é
não apenas um campeão nos tatames mas também um campeão na vida por tudo que
fez pelo esporte", disse Paulo Wanderley Teixeira, presidente da CBJ.
Com informações dos sites www.aureliomiguel.com.br e
www.seul25anos.com.br
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